lá no fundo da água está a lama. a tal onde os parentes caem. sem remédio.
(e no entanto a aparência é tão azul na hora em que mesmo a luz nos faz doer!)
30 março 2010
28 março 2010
do fim do Sonho ou... não.
10 fevereiro 2010
este cansaço de ter a morte no colo. embalá-la, embalá-la
como a uma irmã doente que não tem força para andar
um cansaço feito de aço. todo raiva silenciada
mas a morte... a morte é ela. só ela pode matar.
pois que me dê ela colo. me leve rapidamente
para onde não haja dor. essa dor de se ser gente
olhar em volta e só ver rostos de pressa vazia
corpos dados sem amor. velhos na lenta agonia
de estar vivos por favor
quer do estado ou da família ou atirados pela rua
mas fora do contentor.
embalo a morte no colo mas até quando consigo
não partir para a aventura de saltarmos, ela e eu
para o ar limpo que vai do penhasco até ao mar?
e não nos cansarmos mais.
06 fevereiro 2010
Não te lamento a morte Nuno , agradeço-te a Vida.
colagem simples de MP
mas com direitos reservados
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" Uma noite, ao jantar, começou a ouvir-se um ruído raspado pela chaminé abaixo, e quando todos se tinham calado a olhar para o fogão apagado, um melro entrou e pousou na lage, em frente ao fogão. E ele olhou para toda a gente, com a comprida cauda a pulsar de espanto, após o que, borrou-se. Uma das minhas tias gritou que aquilo era um aviso do Destino, mas o melro levantou vôo e começou a bater nas paredes e cortinas e às vezes atravessava a sala de jantar de lés-a-lés, voando curvilíneamente de forma que passava junto às cabeças de todos, e havia gritos.
Um primo de cabelos brancos e bochechas muito encarnadas levantou-se e disse que ia caçar o melro. Eu só percebi que este estava muito pouco contente e que só queria sair de uma casa onde nunca tinha querido entrar, para começar. Esse primo de cabelos brancos não vivia connosco mas viera jantar nessa noite. Ele agarrou numa almofada de veludo rôxo e atirou-a ao melro, que caiu embrulhado na almofada que era muito mole, resvalando o conjunto por uma parede abaixo. Então eu peguei numa romã e arremessei-a com toda a força à cabeça encarnada e branca desse primo que não vivia connosco e se chamava Jaime.
Estava tudo a olhar para o melro e por isso eu pensei que não me vissem. Mas uma criada que entrava observou o meu gesto, e fui imediatamente empurrado até ao quarto. Bateram-me bastante, nos dois lados da cara, e nunca cheguei a saber o que finalmente aconteceu àquele pássaro."
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In I painel - "A noite e o Riso" de Nuno Bragança
(1929-1985)
29 janeiro 2010
últimas flores
24 janeiro 2010
sonho recorrente
22 janeiro 2010
18 janeiro 2010
de corpo inteiro
não sei nadar em cardume. sufoco. se venho à tona para me afastar
é o ar não tratado que me mata. assim não sei
nadar.
deixem que eu volte a ser de corpo inteiro
talvez possa voar.
é o ar não tratado que me mata. assim não sei
nadar.
deixem que eu volte a ser de corpo inteiro
talvez possa voar.
31 dezembro 2009
última voz em 2009
eram cavalos. no sonho. cavalos de correr. desses de amar
eram cavalos soltos livres sãos. cavalos despenteados pelo vento
cavalos incapazes de parar
eram cavalos. não no sonho, de sonho. eram cavalos de ninguém domar!
eram. eram. eram. tão passado!
eram cavalos de nunca te pisar em correria de fuga
se assim fosse.
eram cavalos. dignos do nome da raça. Lusitanos e para continuar.
parto. não em desespero. só sem esperança.
parece o mesmo? eu sei, mas luto pela diferença.
quando o Amor se acaba nesta vida
inventa-se uma Crença!
( aos meus filhos, neste ano que passa. passará? para muitos com certeza. outros ficarão a sentir os cascos, dos cavalos a pisar-lhes, sem piedade, a já... fin-da-cabeça)
19 dezembro 2009
desde ontem sei, como sei que nasci...
haver uma parte da história por narrar.
um livro em branco que eu não queria encher e sei agora que não pode esperar e ninguém impedirá que, bom ou mau, acabe por se ler.
um livro em branco que eu não queria encher e sei agora que não pode esperar e ninguém impedirá que, bom ou mau, acabe por se ler.
foto de madalena pestana.
07 dezembro 2009
vida de borboleta
ia de olhos no chão. quem sabe agora se seria por medo de cair
numa das ratoeiras que a cidade estende
como uma passadeira interminável?
ia cansada. nem triste nem alegre. só cansada. a precisar de campo. como sempre e a não o poder ter.
ao lado havia vozes. logo havia mais gente no caminho. não olhou. eram vozes jovens. não precisavam dela.
o chão sim. parecia puxá-la como abismo em dia de vertigem. focou melhor a calçada a preto e branco.
uma minúscula e leve forma acastanhada chamou-lhe a atenção. era uma borboleta. com as asas viradas para cima. uma oração?
não se baixou mas parou a olhar. a pensar que gostava de ter uma vida curta e breve. mas não uma vida castanha.
branca ou preta talvez. castanha não.
terá sido um melro a soltar o insecto do bico em pressa de fugir de uma gaivota?
o que a terá feito morrer ali. entre automóveis e gente indiferente?
image by Lynze Lane
se ela tivesse vida de borboleta e pudesse escolher deixava que o vento a arrastasse para morrer junto ao mar. o fim dos rios todos.
entrou em casa. nem alegre nem triste só mais cansada agora. a vida era já longa. demais.
têm sorte as borboletas. cumprem a função na terra e deixam-nas partir...
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