
nas mãos de Deus azedou o vinho da cerimónia

abandonando o homem
um blog a mudar de rumo
foto de magda montemorno mistério da estrada o incógnito. absoluto
nem uma só palavra. desleixada. perdida
a desvendar passados. longínquos tal o tempo
absortas as árvores apelam novos rumos
...e o vento passa longe!
transporta no cinzento das nuvens
a espessura dos sonhos
by Brian Kerr
silêncio a silêncio
construída a vazios. talhada osso em pedra
cresce a história dos homens.
aquela ou outra estrada gravaram-lhes os passos
esqueceram-lhes os sons
deixam marcas nas rochas
cantos de urgente voz. tecidos ardua-mente
houve pressa no erguer-se. lentidão em partir.
vindos. nascidos de onde?
rios em sulcos de pedra. caminham
para que foz?
shadow_riders_by_mmhhrr
terra onde a morte vive. assim é nos desenhos sinistros do solo. assim é nos silêncios. nos rostos vazios de sorrir. assim é.
no mundo. hoje. de hoje.
de fé escutaram o nome. desde a infância. mas era outro o Deus. outra a face que lhe emprestavam.
o deus de hoje. hoje não sorri. nem ele.
a vida marca passo ao compasso de relógios histéricos.
correria.
perda de tempo em cada salto dado. a correr.
não se entendem as gentes num voltear de moscas zombideiras.
fazem tremer os outros com um rosnar de boneco de corda a imitar ferozes predadores.
olham qualquer espelho em torno. auto aplauso. e correm. correm. correm.
ninguém sabe para onde.
ou porquê.
depois a chuva chega. por minutos.
tudo para. até os automóveis. esses uns contra outros. morre-se porque chove.
poucos mas alguns estacam. a escutar. a água. essa que cai. sem hora certa. cada vez menos vezes.
desce o olhar ao chão quem não tem medo disso.
azulou. o espírito da água anulou os zombies. transparece a calçada. o ar é leve.
dos relógios afugou-se a histeria.
art by external linq
- não se inquietem essas sobras de gente. o calor vai voltar. e secar. tudo.
e Deus continuará a não sorrir.
The Gate by `aquapell
não há secura ou espaço silêncio ou solidão que nos livre da graça de sonhar. se a verdade não está no ascestismo nem na paz ou na água, quem sabe o sonho lha venha entregar?
não pensa nisso. apenas adormece.
há um portão de ferro que separa o paraíso do inferno. e ela usa toda a força para o quase abrir. quase fechar. criança em baloiço de adultos.
de nenhum dos lados sabe o que a espera. por isso não o fecha nem se atreve a escolher. não tem palavras escritas o portão, que lhe digam - vem por aqui. nós temos a verdade. e ainda que as houvesse podia ser engano.
diziam-lhe na infância ser o diabo um anjo transviado. bem capaz de enganar.
ao depertar recorda e não sorri. esteve tão perto. sentiu a intensidade da luta entre dois anjos de poder. apenas não sabia a linguagem.
do que por lá escutou não tem nada a contar.
seguirá o caminho. mente em frente. nada a levará a desistir.
image by MustafaDedeogLu
o longe que puder. mais longe ainda que os fins já conhecidos. é para lá que vai.
leva no dorso a saudade do trigo. pouco mais. é peso leve mas ainda muito. de caminho o aliviará. tem como certo.
na noite sabe do sabor da luz. de dia dorme as estrelas haja nuvens ou não.
ainda não sente dor. anestesia da liberdade conseguida. dentro.
e cavalga o destino na direcção do rio que acaba no deserto.
image by MustafaDedeogLu