08 junho 2009

sobre a pele de um rio


image by Torqual


o vento deformou o traçado da areia. é mais difícil ver o curso de água. lá de cima. manhã solta já.

apura o olhar no enfrentar da luz. cansam-se os olhos. o ar assobia ritmos estranhos nos canais das dunas.

- hoje é o dia dele. do elemento ar.

e neste constatar quase sufoca. o pó avermelhado invadiu-lhe a garganta. as narinas. deitou-se então ao chão e rolou duna abaixo. criança a embalar-se e a escorregar.

quando sentiu a dureza da pele do rio seco é que se ergueu. teria ainda muito por andar.

uma nesga de verde no horizonte garantia-lhe o caminho certo.



image by videopixels

- o tempo é meu. caminho passo a passo pelo meu rio na areia.

não pensou em cansaço. só na água. a que seguraria nas mãos. como quem reza.

a magnífica água de purificar e de beber.


image by jameshervey


5 comentários:

  1. a água recorda-nos sempre a nossa essência. depois de um deserto, onde o contraste se aprofunda.

    ResponderEliminar
  2. Fiquei sequiosa!
    Quando fico sequiosa, também seguro a água como quem reza
    Estou triste por estar sem tempo para passear pela blogosfera e por isso, sem tempo de passar por aqui, o que é quase uma blasfémia

    beijinho meu

    ResponderEliminar
  3. o vento quis deixar escrita a sua mensagem para não esquecer a profecia das águas.
    deslocou-se no ar, com os braços manuscreveu segredos húmidos.
    salgou linhas e adocicou entrelinhas. soprou restos de poeira, terminou com um ponto. nele deixou uma única gota de água pura.


    um abraço
    luísa

    ResponderEliminar
  4. Água e ar tornam o caminho mais leve.

    deixo um beijo


    della-porther

    ResponderEliminar
  5. Gosto de ouvir o assobiar do vento, de lhe sentir os dedos.
    Gosto quando confunde a areia, quando se deita na água e a faz gemer baixinho.
    Gosto quando o caminho de terra se torna vermelho e a escrita se faz outra na linha que desenha a pele.

    Um beijo

    ResponderEliminar